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segunda-feira, julho 16

Atafona 1995


"Para Além Do Mar De Atafona" (Maurício Saboya Pinheiro - Maio de 1995)

O sonho:
"Certa manhã, acordei com o mar à minha porta. Eu era o último habitante de Atafona (ou do que restava dela) ainda presente no local. Olhei pela janela e vi que as ondas já tocavam, lambiam suavemente as paredes da pensão de D. Lurdes.


Embebido em um conformismo absoluto, eu senti meus pés se molharem: a água estava cálida e convidativa. Naquela altura, o mar já entrava em casa barulhento, sem a menor cerimónia, como um velho amigo a me visitar. Fortes cascatas brotavam das frestas das janelas e das rachaduras, já numerosas, nas paredes - que teimavam em resistir, inutilmente.

De repente, num estrondo, tudo veio abaixo. A construção ruiu. Eu simplesmente deixei-me levar pelo mar, que me envolvia, me abraçava com sua água docemente salgada, morna. Foi como se eu tivesse voltado ao útero materno. Momento sublime, eterno, apoteótico."


A realidade:
o Rio Paraíba continua secando e o mar avança furiosamente destruindo casas, até um quilómetro terra dentro, apavorando a todos.

Na temporada de verão a maré derrubou 20 imóveis. Até a igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, foi engolida, em 1991.

Segundo os moradores de Atafona, a areia da praia é medicinal, mas ninguém deu muito valor a isso. Preferiram manter "vivas" as cinco ruas de asfalto, onde havia restaurantes, casas, comércio e circulavam carros e ônibus.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Aqui por estes lados, um dia também vai ser assim. O mar galga a terra e o nosso espaço fica reduzido.
    Já não vamos ver isso, mas está para breve.

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  3. Esta será a próxima "Guerra Global" - a "Guerra Climática".
    Os mais ricos viverão nos pólos - com bastante água potável. Os outros viverão nas zonas áridas que se estenderão à Europa.

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  4. Então, mas nunca mais saímos da Atafona?

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