50 anos depois
Estava à espera de sentir qualquer coisa que me fizesse reviver um pouco do ambiente da Parreirinha da Porcalhota. Mas, nada mais resta, como diz uma velha canção do Toni. Os fantasmas não estavam lá.
Faltaram ao encontro, os jogadores de liques da mesa do canto, o Xico Fanfas (atrofiado pelo Lobisomem da Quinta da Porca Suja), o sempre mal humorado Ti'Zidro (gordo reformado da GNR), o Ti Tomé o baixinho, que todos os dias tratava das gaoilas do pintarroxo e do pintassilgo e da sua esgroviada matulona ex artista de teatro de revista, D. Berta, sequestrada segundo ela, da Calçada dos Barbadinhos para a Porcalhota.
E o velho O'neil Pedrosa, que me ensinou a resolver palavras cruzadas e a ressuscitar, com a cinza morna dos cigarros, as moscas afogadas. E o Zé Espanhol, amolador que anunciava o Outono ou a Primavera com o característico toque de sobe e desce daquela gaita de madeira de que não sei o nome.
E o Ti Manel Alcainça, caseiro da D. Efigénia de Sotto Mayor que espreitava pelas grades da janela da cozinha para encomendar às escondidas da patroa, a sua dose diária de 1/2 litro do tinto.
E outros tantos, enfim, que sobrevivem apenas e ainda na minha memória. Por isso, para preservar na minha memória os pormenores destes personagens, NÃO VOU VOLTAR.
1 Comentários:
Agora entendo a tua ausência, porque sem eu ter vivido todas estas tuas recordações, também senti que "aquilo" nada me dizia. Mas, sabes uma coisa Luis, acho que valeu mesmo a pena o jantar daquele dia porque foi a forma de perceberes até onde vai o passado. E,talvez não tenhas percebido, mas só o facto de de teres revivido mentalmente as personagens que aqui descreves, valeu a pena. Gostei muito da caracterização que fizeste de cada um.
Hoje vou lá voltar, para tentar absorver alguma auréola de fantasmas, que eventualmente ainda se encontre na ranhura da gaveta das moedas.
Quim
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