sexta-feira, junho 2

Postais da Porcalhota


Fui ver o Rio das Piçarras.
O regato, para onde eu ia chapinhar no verão, com os outros putos da Porcalhota, até tem água corrente e rãs a coaxar, mas as nascentes e as fontes onde a gente bebia água fresca (por vezes com sanguessugas) estão agora debaixo de carcassas de automóvel e outro ferro-velho por ali espalhado à toa.

Chegado a esta fronteira natural do admirável Bairro do Texas na Falagueira, dei ao pedal para evitar um bando de putos ostensivamente interessados na minha bicicleta e no meu MP3, e, rodeando o bairro subi meia encosta da Serra do Marco à procura da Fábrica dos Ossos, da Fonte dos Passarinhos e da Mãe d'Água das Piçarras - nada.

Barracões e vedações de hortas mal atamancados com restos de mobília, de onde se vê sair gente desconfiada, olhando de soslaio quem se aproxima; garagens e oficinas clandestinas com os mangas, a meia porta, assim a modos que a tirar as medidas a quem passa.

1ª conclusão: um desgosto - senti-me a mais na minha terra de há 50 anos!

Na Trav. da Quinta do Pau, no local onde o Fanfas encontrou o Lobisomem da Porcalhota, ainda se vêm as nespereiras da Quinta do Assentista, mas coitadas, estão mirradas...
No Casal da Estrada dos Salgados, junto da Estação do Metro, ainda está de pé (mas em ruínas), a casa ao lado daquela onde viveu o Zé Carranquinha quando era puto.

Na Pedro Franco, a Tasca do Alexandre, está fechada e não reconheci ninguém do pessoal que se encontrava no passeio em frente, sentados à porta da Filarmónica.
Só neste dia reparei que a casa do Carlos Barbeiro está abandonada e que o Chafariz da Porcalhota, sem água, não tem graça nenhuma.

2ª conclusão: quando a gente anda de automóvel, as coisas parecem muito diferentes!

Surpreendentemente, a Padaria, a Drogaria e o Carvoeiro, frente à Sociedade, estão iguais.

3ª conclusão: claro que as coisas mudam com o tempo, mas sempre esperei que fosse para melhor!

4 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Não fiques triste pá!
A vida é isso.
Outros mangas terão outras memórias e assim sucessivamente...
Um dia andarão de bicicleta a recordar nespereiras mirradas e oficinas clandestinas, barracões e vedações de hortas mal atamancadas.
A vida é mesmo isso, Luis.
abraço
jota_cê

02/06/06, 13:13  
Anonymous Anónimo disse...

Luís-não me lembro nada desta Avª. da República.....

Claro que a vida é assim, JC, mas haverá memórias se não formos felizes? ou seja, que memórias dos putos d'agora? DVD's/TV/Internet......????

Severino

06/06/06, 16:41  
Anonymous Anónimo disse...

O meu primeiro emprego foi nesta avenida, na loja BRAZ, das loiças, tinha 11 anos, mas já não era nada o que está na fotografia. Gostei desta terra e das pessoas que me acarinharam e ajudaram.
Tenho lembranças, não sou muito de saudades, sou idealista, acredito no futuro p'ra melhor, a AMADORA ainda vai ser uma grande cidade, os PUTOS de hoje vão encarregar-se disso e vão ser felizes.
XL

07/06/06, 13:12  
Anonymous Anónimo disse...

Pois é Severino. As memórias dos putos de agora ... serão as memórias dos putos de agora! Serão os DVD's, a TV, a Internet. Do mesmo modo que as tuas foram as tuas e a dos teus Pais diferentes das dos teus Avós. A marcha do tempo é isso mesmo. Como diz o XL...os putos vão encarregar-se de ser felizes. Abraço JC

08/06/06, 14:23  

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