quinta-feira, maio 17

Casal da Charneca (4)


.. (continuação do episódio anterior)
Combinamos os turnos de sentinela enquanto nos debatemos com a abertura das conservas da ração de combate; depois de despachado o delicioso menu, foi só recostar o lombo num fardo de palha, apoiar o capacete num molhinho de feno e… em menos de um minuto, o sono e o sonho, venceram a guerra.

Aí estou eu, num belo dia de sol, livremente refastelado na areia morna depois de mais um acrobático mergulho nas águas quentes do Golfo do México; consegui fazer aquele espectacular voo picado, desde lá do cimo da célebre falésia da Praia de Acapulco, como o "rapaz" do filme "Summer Holidays" que eu tinha ido ver à pouco tempo, ao Chiado Terrasse com o meu amigo Zé Carranquinha.

Mesmo ali ao pé, no palco da praia, Cliff Richard e os Shadows, interpretam a música que é tema principal do filme. Respiro fundo, enquanto uma morena do bikini verde, verde alface se vem colar autenticamente a mim; ela encaixa-se, aninha-se debaixo do meu braço esquerdo; a sua pele quente e macia, reconforta o meu corpo ainda húmido do mergulho no mar.

Logo de seguida, do outro lado, uma surpresa loira bem bronzeada, ajoelha-se debruçando o seu bem torneado torso sobre mim fazendo eriçar os meus pêlos ao raspar muito ao de leve sobre o meu peito o farto recheio da parte superior do seu monoquini cor de pele, que naquela época ainda não se usava. Entretanto Os Shadows, tocavam agora um tema instrumental - O Alentejo - pouco conhecido do seu reportório, mas muito bem escolhido para aqueles momentos.

Os cabelos dourados, escorridos, soltos que pousam no meu rosto, cheiram a jasmim silvestre; interpondo-se no caminho do sol, ela trespassa-me com um olhar frio de verde-esmeralda; e quando baixa ainda mais a cabeça sobre a minha cara, sinto-lhe o hálito… quente e um intenso odor de erva cortada; a sua boca, num impulso, aproxima-se inexoravelmente de mim; a ponta de uma língua molhada, percorre a minha face (naquele tempo) escanhoada de forma impecável; num sobressalto, levo os dedos ao rasto de saliva desenhado na minha pele, salgada.

Entretanto, a morena do biKini cor de alface francesa aconchega-se melhor no meu lado esquerdo; está mais quente; nas minhas costelas, sinto o frémito da sua respiração acelerada; parece o ronronar de uma gata. De súbito, num salto, levanto-me e afasto-me, protegendo a cara com as mãos:
Foda-se!!! A cabra da loira, mordeu-me!!?”


Acordei.
Era mesmo uma cabra, verdadeira, que tentava roer o quico (o boné) da minha cabeça, enquanto, do outro lado encostada a mim, uma ovelha ruminava de mansinho uns filetes de palha.

10 Comentários:

Blogger O Bicho disse...

estava previsto, fazer esta estória, durar mais um episódio (ou dois) mas a narrativa entusiasmou-me de tal modo que não consegui resistir a publicar já tudo de uma assentada.

16/05/07, 13:56  
Anonymous Anónimo disse...

Estava a imaginar um fim comico, mas não este!!!

Ou será que o moral da estoria é que TODA LOURA É PERIGOSA!!!!!!!!!!

Spuk

17/05/07, 08:43  
Blogger O Bicho disse...

Essa conclusão é interessante, concordo, Spuk.
Tal como uma boa Telenovela Brasileira, esta estória, tinha várias opções preparadas para um possível final - esta foi a que escolhi, por ser a que mais rapidamente põe fim à estória.
Não me sinto bem; não ando muito inspirado.

17/05/07, 09:44  
Blogger Carla D'elvas disse...

eu tive o previlégio de ler o fim desta estoria ontem :)
adorei!
escreve outra...

17/05/07, 10:11  
Blogger Kim disse...

Gostei muito Gigi.
Este é o Gigi que eu conheço.
Não o outro.

17/05/07, 11:15  
Anonymous Anónimo disse...

Só falta acrescentar que o Princípio e o Final da história, aconteceram mesmo, numa noite chuvosa de Julho de 1970, no Casal da Charneca, próximo de Almoster.

17/05/07, 13:33  
Anonymous Anónimo disse...

Tambem comigo foi um nada parecido.. O dia também tinha escolhido ser belo e com um Sol intenso, estava também eu refastelado, neste caso em cima de Erva, a música era uma mistura de uma brisa fresca e suave com cantares de passarinhos. Os cheiros imensos.. Dei com ela por acaso, cabelos encaracolados, labios carnudos de um rosa leitoso, olhar inocente mas ao mesmo tempo provocante, tal era o movimento constante do labio inferior, fazendo beicinho com o superior, todo aquele cenário era paradisiaco.. e de um momento para o outro toda a minha vida se transformou. De um ápice foi-se a inocencia, tinha acabado de perder a virgindade.. Estava ainda absorto neste extase que nem reparei que se aproximava de mansinho a sua mãe, que me surprendeu no meu ouvido com o seu balido, Mééééééééé !!!! :)

17/05/07, 23:57  
Blogger O Bicho disse...

E depois disso, Pantas, nem ao menos um telefonema, nem uma carta, ela não escreveu nem um postalzinho???

18/05/07, 13:07  
Anonymous Anónimo disse...

Nada Amigo Bicho!!! Só com o tempo me apercebi que aquele meu primeiro amor, não passava afinal de uma Grande Cabra !!! Ah,ah,ah,ah...

18/05/07, 15:48  
Blogger O Bicho disse...

Pois é pá, são todas iguais...

18/05/07, 18:21  

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