os Exames

Em 1888, Domingos Tarroso publicou "O Monopólio da Ciência Oficial", onde faz a seguinte apreciação crítica sobre o ensino oficial em Portugal.

"Nos Liceus, em quase todos, os exames são feitos em saletas do tamanho de quartos. Dir-se-ia que se trata de repelir os espectadores para melhor se depenar a vítima... O Aluno fica entalado entre os três examinadores e meia dúzia de amigos destes, que de propósito ocupam as seis ou oito cadeiras atrás do aluno.
Cá fora, no corredor, e um pouco distante da porta para não impedir a passagem, senhoras e homens esticam o pescoço para dentro e dirigem aos examinadores olhares suplicantes. É que lá está no garrote um filho, um sobrinho, um irmão - um rapazinho encolhido, trémulo, titubeante, assustado, sem voz, sem palavras, sem ideias, quase a chorar, como um pintainho levado por um milhafre.
O examinador quase nunca pergunta as coisas simples, úteis, importantes, as coisas mais notáveis que veem em todos os livros e sabem todos os rapazes. Busca subtilezas, investiga hipóteses difíceis, argúcias embraraçoasas, faz apenas interrogações enigmáticas ou dúbias, para poder aprovar ou reprovar o aluno à sua vontade."

Quase um século depois, os meus exames, do 2º e 5º anos, no Liceu Pedro Nunes, encaixavam perfeitamente nesta descrição.

Posso mesmo dizer, que a única diferença foi, no meu caso, não ter havido ninguém (parentes ou amigos) do lado de fora da sala a rezar pelo meu desempenho.