Arquivos (revisitados) da Porcalhota
- O R/C era todo dedicado à loja (centro comercial) do Sr. Amaral (o velho), avô do nosso conhecido Rui Amaral.
- No 1º andar, existiu em tempos o célebre restaurante Pedro dos Coelhos.
Aqui residiu depois, minha avó com meus tios. Recordo-me das paredes das salas, desse piso serem todas decoradas com motivos campestres, que eram a perdição dos putos da casa - eu, meu irmão e o meu primo Emanuel, que nos anos sessenta jogou nos júniores do Sporting e era o filho do Ernesto "pulga" que também jogou no Sporting. Ele trabalhava na Fábrica de Malhas Simões, em Benfica e residia nos Salgados.
Uma de minhas tias, a Luisa Patusco, foi a maquilhadora das miudas das revistas amadoras da Sociedade, onde sobressaiam a Francelina e o Carvalhinho. - Nas Águas Furtadas morava o Domingos Reis, casado com a tia Albertina.
Foi pena este prédio ter sido demolido, não só pelos belos azulejos da frontaria, onde se podiam ver as letras alusivas à antiga "Casa de Pasto" como também pelas citadas pinturas decorativas das paredes interiores.
O Ti Vitor Silvestre (dono de taxis na praça da Amadora e filho do primeiro industrial de táxis da Amadora e Benfica e sobrinho do sr. Amaral) contou-me em tempos que também se lembrava de ver, nas salas do 1º. andar, versos escritos nas paredes, alusivos à presença dos janotas dos finais do século XIX que frequentavam os "tascos" fora de portas.Ainda a propósito do Pedro dos Coelhos, ouvi há dias a D. Ivone Silvestre (filha do Silvestre, dos Táxis) trautear uma pequena canção popular em voga na Porcalhota no princípio do século XX, que passo a transcrever:
Eu sou o coelho manso
um petisco preferido
com batatas pulo e danço
e com arroz sou envolvido.
Sou refogado bem misturado
com azeitonas e salada,
e vem gente de Lisboa
que grita sem hesitar:
«mate um coelho patroa!
E catrapuz... dá-me um ar».é tudo, por agora.
A C Silva
7 Comentários:
A Receita Original do "Coelho à Pedro dos Coelhos" é a seguinte:
"Depois de morto o animal, esfola-se, recolhendo o sangue para uma tigelinha com vinagre, por forma a não coalhar, tendo, no entanto, o cuidado de o não sangrar totalmente. Deste modo a carne do coelho não fica branca e sem gosto.
Parte-se em seguida em pedacinhos, aproveitando os miúdos e a cabeça, da qual se retiram os olhos. Em seguida deita-se num tacho de barro um pouco de banha, e vários dentes de alho picados. Junta-se também cebola picada a alourar. Adiciona-se, então, os pedaços de coelho e muito tomate, salsa picada, sal e pimenta, e por fim um fio de azeite.
Em lume brando coze-se o coelho.
Depois de cozido, junta-se, nesta altura, o sangue e o vinagre que no princípio foi guardado na tigelinha, e um pouco de água, levando a lume brando por pouco tempo.
Num outro tacho de barro, com a água da cozedura faz-se o arroz.
Serve-se separado.
Esta receita remonta a finais do século XIX, sendo um petisco muito famoso nessa época, celebrizado pelas mãos de Pedro Franco, figura popular da Porcalhota.
Este apetitoso guisado de coelho era servido no seu estabelecimento, e atraía muitas pessoas desta zona e dos arredores.
A sua fama era tal que Eça de Queiroz, no seu livro "Os Maias", faz referência a este pitéu na seguinte passagem: "Felizmente estavam chegando à Porcalhota. O seu vivo desejo seria comer o famoso coelho guisado (…) ".
(páginas do site da Câmara Municipal da Amadora.)
xl
Quantas mães por ti em vão choraram, para que fosses nosso, ó Pedro dos Coelhos!
Vieram nobres e falcatos, gordinhos e magricelas, ricos e pobres, a Grande Gala e Nem Hippie nem Pop e a casa foi abaixo.
Prédio lindo que a identidade da Porcalhota assim foi perdendo.
Ingredientes:
1 coelho com +- 1,200kg
2 dl de vinho tinto
1 colher de sopa bem cheia de banha
3 colheres de sopa de azeite
1 cebola grande
1 bom dente de alho
4 tomates médios
sal q.b.
pimenta q.b.
1 colher de sopa de salsa picada
2 dl de caldo de carne
Confecção:
Corta-se o coelho aos bocados.
Põe-se ao lume uma caçarola com o azeite e a banha (a caçarola tem que ser grande para que os bocados do coelho não fiquem uns em cima dos outros).
Assim que as gorduras estejam a fumegar, deitam-se os bocados do coelho para alourar virando-os para alourar por igual.
Depois de alourado, põe-se o lume brando, adicionando o vinho, a cebola picadinha, o alho picado, o tomate pelado e sem grainhas cortado aos bocadinhos, sal e a pimenta.
Tapa-se bem a caçarola continuando a cozedura por +- 1 hora, conforme a dureza do coelho, mas convém verificar.
Depois de cozido rectifica-se os temperos, polvilha-se com a salsa picada e serve-se bem quente.
Acompanhe com batatas fritas, cozidas ou arroz branco.
Hoje não me apetece nada.
É o meu dia de jejum,mas mesmo assim não me impede de vos desejar Bom Fim de Semana.
(…) Pedro Franco, figura austera e de respeito, cioso das suas suissas fartas, amigo do seu amigo, além de ter sido o mais hábil cozinheiro da Porcalhota e arredores, foi também regedor nesta terra que ele muito estimou. Contemporâneo de outro Pedro Franco, administrador do Concelho de Belém, ao qual a Porcalhota então pertencia, eram frequentes os elogios que recebia do seu homónimo superior que muitas vezes teria afirmado: “Enquanto estiver o Pedro Franco em Belém, tem de estar o Pedro Franco na Porcalhota!”. (…)
Artigo ”«Mestre» Pedro e os seus famosos coelhos” no jornal “Notícias da Amadora” de 27 de Junho de 1959, In “Páginas da História da Amadora – Colectânea de artigos de Vasco Callixto”, p. 53, Ed. CM Amadora, 1987.
Só agora reparei que já tinhas a receita. Não faz mal. Ficaste com umas linhas de "Os Maias", pode ser que te abra o apetite para o coelho e para o romance.
Maria dos Alcatruzes
Obrigado ACSilva, por este excelente contributo.
Seve
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