Quem se lixa

Quando o mar está zangado, diz o povo e tem razão,
bate na rocha, mas quem se lixa é o mexilhão.
Quando me apetece marisco, se o mar está de feição,
eu subo na rocha, e quem se lixa é o mexilhão.

Ontem, eu e o nosso Miguel, aproveitando a maré, descemos a falésia até ao mar e subimos à rocha escondida para lixarmos quantos uns mexilhões.

Primeiro, o mais difícil, como dizem os franceses, "il faut décrocher les moules" - há que tomar cuidado e nunca virar costas ao mar - convém estar sempre de olho nele, como soi dizer-se, é preciso estar "com um olho no Burro e outro no Cigano".
Foi com isto sempre em mente que, num ver se te avias, antes que a maré virasse, conseguimos lixar aí uns 5 kgs de mexilhões de tamanho jeitoso.
Oferecemos metade aos nossos vizinhos de toldo na praia e toca a andar para a cozinha para enfiar com eles ainda bem fresquinhos (a saber a mar) dentro do tacho de refogado.
Tomates madurinhos e Cebolas (de uma horta aqui na várzea) estrujidos em azeite puro de oliveira e num quarto de hora, está na mesa uma saborosa entrada para o jantar.
Acompanhar com um Rosé da Quinta da Alorna e fatias de Pão Saloio para ensopar no molho (ou melhor ainda utilisar as conchas vazias para fazer de colher e sorver alarvemente o molho) ainda com os restinhos de cebola e tomate a boiar.

Ahhh, e não esquecer, chupar os dedos no fim!

Grande porcaria... dizem. Bem, felizmente nem toda a gente gosta da mesma coisa - há quem prefira Gambas ou Sapateiras...